quinta-feira, 29 de maio de 2008

O atelier esquecido

Do interior do antigo cinema da Ordem de São Francisco ouvem-se vozes. São mulheres em seus teares, descobrindo fios da própria existência. Tramam sentimentos em forma de passadeiras, cortinas, toalhas.

E no fim da jornada chegam em casa para adormentar seus pequeninos.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Por encanto

Existe uma flor de maracujá na Rua das Laranjeiras. Ela é tímida, calma e dorminhoca. Protegida numa varanda, deita em muro terracota.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Olho por olho

Não tenha medo de entrar no Museu Abelardo Rodrigues, mesmo que os santos de olhos de vidro, escondidos em seus relicários, te encarem insistentemente. Chegaram de Recife e até já fizeram milagres em terras baianas.

Percorrer os corredores e escadas deste local é um refrigério pra alma. De uma das janelas, vista espetacular! No fim de tarde, então!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Janela guilhotina

Menino malino saiu de casa e nem foi convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado. Ele é da Vinte e oito e sofre de paixão por uma tal de Lucy( ela vive no céu, com diamantes). Pobre menino, menino pobre! Ele te pedirá esmolas, não te oferecerá um axé, em pleno Terreiro de Jesus.

domingo, 25 de maio de 2008

O café da Misericórdia

A sesta na Sé é democrática. Até mesmo os gatos (acertou, os de quatro patas) daquelas bandas
se esparramam por debaixo dos bancos da praça que leva o mesmo nome da catedral demolida por senhores preocupados com o progresso de Salvador. Pros tais progressistas, ela atrapalhava o vai-e-vem dos antigos bondes existentes no local. Tente ler o livro "Memória da Sé", do professor Fernando da Rocha Peres,tá?

Quando vou a Sé (e a pé, claro) adoro me esconder perto do canteiro da cajazeira altona que fica até hoje colada ao muro lateral da Igreja da Misericórdia. Ufa!

A fresca do lugarzinho é boa. E como não pode deixar de ser, um vendedor de água mineral (espero), gaiato que só ele, vai aparecer do nada, pra você, com comentários felizes a tiracolo: "Sua parenta (sic) da Suécia comprou água ,ontem, aqui comigo. 'Minha água' é de confiança, olha o lacre aqui, ó." Ah, naturalmente escute tudo em silêncio e continue a direcionar o seu olhar pra um vovô que dorme sentado, com o pescoço todo destrambelhado (com fé ele parece se movimentar até a Cidade Baixa, e retorna em paz). Prefira imaginar que os seus sonhos estão lindos ("os sonhos mais lindos, sonhei").

E depois, pra completar o dia, chame "o cafezinho" (sinônimo de vendedor de café, meus amigos doutros cantos). Humm, já o outro cafezinho (doce, doce,doce), caprichado, chega em segundos, de "nossas soteropolitanas máquinas ambulantes de café". Cafezinho, cafezinho, ele chega até você num copo plástico, saído de um carrinho. É ver, provar e conversar.

Meia horinha, é pouco ou quer mais?

sábado, 24 de maio de 2008

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Anjo-correio

Havia um anjo barroco sustentando o baldaquim. Ele olhou pra mim, olhou pra mim e disse assim:"Desliga o flash da câmera aí!".

Depois de toda a destruição que os holandeses (invasores) fizeram à primeira casa da Ordem dos Franciscanos em Salvador, até os pequenos alados da extravagante "igreja de ouro"(fruto do projeto do arquiteto português Gabriel Ribeiro, em 1702) realizam campanhas educativas em prol do velho templo. Que barato!

Pinturas e esculturas do Brasil Colônia, trabalhos que enriquecem a memória artística nacional, merecem requintes de cuidados.Um deles depende de uma pequena iniciativa, não é mesmo?
E tomara que os anjinhos da Igreja de São Francisco aprendam logo a falar inglês, ou italiano, ou chinês, etc.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Capoerê

Menino do Pelô
Seu canto clareou ô ô
Na casa de uma estrela

Menino do Pelô
Chamego do nagô ô ô
A flor perfumou sua beira

No capoerê
No capoerá
Capoerê
Capoeira

São Bento Grande
Santa Maria
São Bento Pequeno
Cavalaria

Autores: Paulinho de Camafeu e Edmundo Caroso

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Três nós

Pra começo de conversa, a gente chega na Praça Municipal e desde cedo algumas dezenas de vendedores ambulantes nos animam com sua criatividade. Aqueles que andam com suas rencas de colares arrumadas nos antebraços de seus corpos sempre aparecem com fitinhas do Bonfim para dar a um passante julgado como "de outro mundo", eles querem mesmo é vender seus balangandãs, as fitinhas são estratégicas. Senhor do Bonfim deve ficar na mira dos espertinhos.

Xá pra lá! Como não sou de negar papo, quando passo por ali sou capaz de ouvir todo o discurso dos mascates, mas aviso de antemão que tô só pra ver. Nada de dotes pechincheiros em tal momento, até porque fitinha do Bonfim não combina com área de vendas. Ela é um dos nossos patrimônios imateriais, mesmo que não aparente sê- lo. Cada qual com seus três nós, seus três desejos e nada mais a declarar.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Entrei pelo pé do ...

Estou no Pelô desde que vozinha me levou na casa de tia Té, sua mana querida, moradora do Edifício Orion, localizado na Ladeira do Taboão ( ali onde você vai em busca de tecidos para arrumar o seu sofá, sabe?).

Conta a lenda que tia Té era uma espécie de "teúda", como chamavam a "mulher com vida" mantida às custas de outrem. Passados vinte anos, ainda futuco com os olhos a portaria abandonada do Orion de hoje, meio decadente, empoeirado e esquecido.

Mas tia Té, com a sua alegria, ainda está lá.