segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Encontrei um material que relata algumas lutas das mulheres e sua participação na Associação dos Moradores e Amigos do Centro Histórico (AMACH). Abaixo segue um trecho do texto, que pode ser encontrado completo no site do CEAS.

Associação de Moradores e Amigos do Centro Histórico (AMACH)

O surgimento e o histórico da Associação dos Moradores e Amigos do Centro Histórico (AMACH) – que poderia muito bem ser chamar “Associação das Moradoras e Amigas do Centro Histórico”, tamanha a predominância das mulheres em sua composição – estão totalmente relacionados ao Projeto de Revitalização do Centro Histórico de Salvador que, já na sua 7.ª Etapa, continua expulsando antigos moradores do local. O projeto da 7.a Etapa, como é conhecido, faz parte do Programa de Preservação de Patrimônio Cultural Urbano (Programa Monumenta) do Ministério da Cultura (MinC), com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da UNESCO, além de substancial participação do Governo do Estado da Bahia em termos de contrapartida e da complementação de recursos para o setor habitacional através da Caixa Econômica Federal (CEF). O Projeto é iniciado em 2001, mesmo ano em que é fundada a AMACH.

São cinco anos de luta (2001-2006) nos quais as mulheres da AMACH enfrentaram muitos obstáculos, como os embates com o Governo do Estado da Bahia para a garantia de permanência na área e participação no Projeto, além das dificuldades de fortalecer a organização do “movimento pró-moradia”, mantido basicamente por mulheres que convivem com o desemprego, com casas em risco de desabamento, com o cuidado com a família, com os preconceito de raça e gênero, com a violência e o tráfico de drogas. Em muitos momentos de discussão com a comunidade e com o Poder Público elas relembraram o caminho traçado neste histórico de luta até os dias atuais: a composição da direção, que mostrava a resistência das mulheres (até o momento foram duas presidentas, sendo apenas quatro homens no total de 15 pessoas na diretoria); as dificuldades enfrentadas para mobilizar uma área onde o desemprego e o subemprego, a prostituição e o alto índice de uso e tráfico de crack são uma realidade; a Ação Civil Pública junto ao Ministério Público contra o Governo do Estado; a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre Ministério Publico e Governo, contendo demandas formuladas pela AMACH; a visita do Relator da ONU para a Moradia Adequada, Miloon Kothari; o processo de negociação do Estado com as lideranças; a chegada de alguns projetos sociais com recursos públicos; a garantia de permanência para apenas 103 famílias...

Desde sua criação a AMACH teve o difícil convívio com a “crise das lideranças”, causada pelo conflito entre o tempo destinado ao trabalho comunitário (não remunerado), a pressão familiar para a manutenção econômica e o cuidado com a casa, filhos e companheiros. Neste tempo percebemos então, só em função do tempo das mulheres dedicado à AMACH, um aumento do stress, diversas brigas conjugais, aumento da crise do desemprego... Ao mesmo tempo, é perceptível que as mulheres imprimem um diferencial organizacional, que pode ser traduzido no cuidado, zelo e sensibilidade. Não é em vão que um número expressivo de organizações de bairros populares tenha seu início como grupo de mães, corte e custura ou grupo de mulheres; elas acabam expandido para fora de casa o cuidado para com os seus. Na AMACH, apesar de já ter seu início como associação de moradores, isto fica explícito no cuidado com que estas mulheres trataram dos encaminhamentos políticos no enfrentamento com o Governo do Estado da Bahia.

Os pontos mais marcantes deste zelo ficaram evidentes no trabalho especial da AMACH em relação à compatibilização das novas moradias às famílias remanescentes. Já que, mesmo com a garantia de permanência no Centro Histórico, não foi garantida para as 103 famílias a permanência em seu imóvel de origem, foi preciso adaptar o número de componentes familiares à quantidade de cômodos das casas a serem reformadas, mantendo atenção ainda ás relações de vizinhança. Trabalho árduo, que requer paciência, organização e sensibilidade. Soma-se a este trabalho comunitário outras atenções em relação à negociação com o Estado, organização dos trabalhos sociais, o cuidado com a sede da Associação, a mobilização comunitária... e percebe-se o alto grau de comprometimento destas lideranças com a luta da AMACH.

As mulheres do Centro Histórico ainda têm muita luta pela frente: cuidar dos encaminhamentos do TAC junto ao novo governo; observá-lo com atenção, convivendo com diversas situações de risco; cuidar da comunidade, da casa e de si, além de estar atenta para a organização da AMACH. Aposta-se na força da associação como movimento de resistência e no papel da mulher no cuidar da casa como extensão para o bairro.

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